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quinta-feira, 24 de junho de 2010

Ser Árvore



Há um tempo que nos cabe
de sermos tronco adulto altivo
resistente à injúria e ao machado.
Raízes são olhares que deixamos
prender na solidão das casas
pejadas de gritos e abraços
e recados ao encontro do futuro.
Não me falem de ninhos, nem de sonhos,
nem de viagens, nem de contas-correntes.
Eu só quero ser árvore, ouvem bem,
árvore, com seivas elaboradas,
diligentes, cantarolando
uma húmida e suave barcarola.
Hei-de ter folhas rente ao chão
ao alcance da fome e da loucura
de quem sonhou demais e definhou.
Hei-de ter copa, sim, da matéria
das sombras que o luar constrói
na cal dos muros, nos caminhos da noite.
Depois serei colosso, serei lenho,
as seivas já sem canto, só soluço,
em debandada as sombras e os espectros.
Velha serei, mas árvore e deixarei,
viçosas, esperançosas, algumas
jovens folhas rente ao chão.

Licínia Quitério
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