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segunda-feira, 26 de novembro de 2012

XCIV





Se eu morrer, sobrevive-me com tanta força pura
que despertes a fúria do pálido e do frio,
de norte a sul levanta teus olhos indeléveis,
que a tua boca de guitarra soe de nascente a poente.

Não quero que vacilem nem teu riso nem teus passos,
não quero que morra a minha herança de alegria,
não chames o meu peito, estou ausente.
Habita a minha ausência como uma casa.

É uma casa tão vasta a ausência
que passarás nela através das paredes
e suspenderás os quadros no ar.

É uma casa tão transparente a ausência
que eu, sem vida, te verei viver
e, se sofreres, meu amor, morrerei outra vez.

Pablo Neruda, Cem sonetos de amor, Trad. De Albano Martins.