O poema me levará no tempo
Quando eu já não for eu
E passarei sozinha
Entre as mãos de quem lê
O poema alguém o dirá
Às searas
Sua passagem se confundirá
Com o rumor do mar com o passar
do vento
O poema habitará
O espaço mais concreto e mais
atento...
Mesmo que eu morra o poema
encontrará
Uma praia onde quebrar as suas
ondas
E entre quatro paredes densas
De funda e devorada solidão
Alguém seu próprio ser
confundirá
Com o
poema no tempo. Sophia de Mello Breyner Andresen