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quarta-feira, 30 de maio de 2018

Um poema para começar o dia!


Do tempo

Do tempo. Desse tempo em que as cidades
tinham casas com degraus exteriores
onde a luz e a treva adormeciam sem medos.
Desse tempo em que no campo eram benzidas
as oliveiras para que os relâmpagos
não atingissem o lagar,
nem o pão acabado de cozer,
nem o vinho novo, nem o regaço das mães.
Desse tempo em que as portas e as cancelas
dos pátios estavam permanentemente abertas
aos passos de quem vinha.
Desse tempo em que as cores dos berlindes
Graça Pires

brilhavam nos olhos das crianças
que, de rua em rua, escolhiam os amigos
para a troca, para a briga, para a bola.
Desse tempo em que as mulheres
levavam na cabeça os cântaros, ou a fruta,
ou os desejos inconfessados do prazer.
Desse tempo tão diferente, até no modo neutro
como olhamos a vida, espalhamos pela casa
os rostos e os nomes.
Desse tempo.

Graça Pires
In: CONTINUUM: Antologia poética.