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Dia Internacional dos Direitos Humanos
Para refletir, um poema fantástico ...
Duas pombas pousam as asas
Duas pombas pousam as asas
No cume da fraga, as pombas contemplam-se e ciciam algo.
no cimo de uma fraga abrupta.
Uma é bela, branca e robusta,
diplomata pombalina.
A outra, oriunda de uma fábrica devoluta,
A outra, oriunda de uma fábrica devoluta,
é uma pedinte das calçadas de granito
conformada há anos com a podridão absoluta
que a cor do infinito lhe cravou na espinha.
É uma tarde estival, o crepúsculo esfuma-se na fraga.
É uma tarde estival, o crepúsculo esfuma-se na fraga.
Duas pombas repousam, uma introspetiva, a outra sozinha.
Ambas sentem um imenso medo da morte, do fim e do nada.
Há, contudo, uma linha subconsciente que as separa.
E, no entanto, o vento que as afasta desde a nascença,
E, no entanto, o vento que as afasta desde a nascença,
sopra agora, comovido, das entranhas de uma seara,
as palavras exatas e a densidade imensa
de um entendimento que a natureza evitou.
É uma tarde estival, também eu reflito no cimo de uma colina
É uma tarde estival, também eu reflito no cimo de uma colina
- a erudição humana.
Com a vasta quietude de quem pensa e raciocina,
aqui estou, debruçado sobre o encanto de quem se engana.
A vida inteira a defender a distinção da pomba em duas classes,
- o grupo magno da pomba branca e o mísero ajuntamento da pomba carvoenta –,
para agora ver e não conseguir distinguir
a paz do nomadismo em rostos de mudança.
No cume da fraga, as pombas contemplam-se e ciciam algo.
Fecho os olhos, sei o que dizem.
A pomba branca, sábia e serena, doída de todo aquele confronto,
volteia a pomba negra e murmura-lhe serenamente:
- Sê calma na aprendizagem da vida.
- Sê calma na aprendizagem da vida.
Um dia, a morte pousa-te na asa, mas não temas.
Lembra-te que é da escuridão que brotam as estrelas.
A pomba negra respira fundo, esvoaça e diz:
- Partamos então sem rumo. Mas não gemas.
A pomba negra respira fundo, esvoaça e diz:
- Partamos então sem rumo. Mas não gemas.
O ciclo é certo e manifesta-se em nós.
Quando te cansares de ser a luz e a nossa voz,
eu levo os astros e sucedemo-nos,
formando um ciclo imperfeito que ao nosso ritmo passa.
Porque afinal, somos uma só raça.
se ao humano não bastava a palavra certa.
Em silêncio, escuto-a placidamente em mim.
Um dia, cantá-la-ei a toda a gente e a fraternidade
será redescoberta em cada face, em cada ser.
Ao longe, sinto a palavra e a sua exatidão.
A palavra que fará o mundo mover-se numa só direção.
André Santos Oliveira, in “Meia-Asa”, a editar em breve pela Chiado Editora