SER VERDADEIRAMENTE RICO
Este foi o meu primeiro aniversário longe de casa.
Senti falta da minha mãe, da minha irmã, e seguramente do bolo especial que a minha mãe sempre fazia.
Este ano, desde que entrei para a universidade, invejo os caloiros que recebem encomendas dos pais nos seus aniversários — aliás, até nos dias normais. Em vez de me sentir empolgada com o facto de fazer 18 anos, sinto-me vazia. Gostava que a minha mãe me enviasse algo também, mas sei que não tem dinheiro para o presente ou sequer para os portes de envio.
Fez sempre o melhor que pôde pela minha irmã e por mim. Criou-nos sozinha. E a verdade é que nunca houve dinheiro suficiente. Mas isso não a impediu de nos ajudar a sonhar. “Podes ser aquilo que quiseres ser”, dizia ela. “Política, bailarina, escritora, tens apenas de trabalhar para isso, tens de apostar na tua educação.”
Durante muito tempo, por causa do esforço e habilidade da minha mãe, não compreendi que éramos pobres. Ela conseguia fazer tanto com tão pouco! Tratava da nossa casa com verdadeiro empenho e zelava pelos canos com mais de 40 anos e pelo aquecedor a óleo para que nos mantivéssemos quentes durante os invernos gélidos.
Vestia-nos e alimentava-nos. Conseguiu que tivéssemos bolsas para estudarmos violino e piano com os melhores professores de Filadélfia.
Nunca deixava passar nenhuma oportunidade para falar com os nossos professores e assistia a todas as nossas apresentações musicais e teatrais.
A minha mãe tinha muita esperança na minha irmã e em mim. E compreendeu que o modo de sairmos da pobreza era a educação.
Não brincávamos sempre na rua como as outras crianças, nem ficávamos no alpendre até tarde, a conversar e a rir com os vizinhos. Ficávamos em casa a fazer os trabalhos escolares e a ler livros. A minha mãe sentava-se connosco, enquanto cumpríamos as nossas tarefas, e ensinava-nos a estudar, incitando-nos a consultar
enciclopédias ou a recorrer às bibliotecas.
E fazia tudo isso com um salário manifestamente insuficiente.
Nunca comprou nada que pudesse ela própria fazer e apenas em casos de emergência recorria às suas poupanças, que guardava num banco do centro da cidade.
Graças aos grandes sonhos e sacrifícios da minha mãe, consegui chegar à Ivy League, na Universidade de Brown, em Rhode Island. Mesmo assim, tive medo de não estar à altura dos meus colegas. Pareciam-me confiantes e aparentavam ser ricos.
Senti-me perdida e deslocada por vezes.
Enquanto sonhava acordada, bateram à porta. A minha colega de quarto abriu e um homem dos correios perguntou por mim. Entregou-lhe uma caixa retangular e grande, que ela colocou cuidadosamente sobre a secretária ao pé da minha cama.
Abri-a e lá dentro estava um bolo de baunilha com cobertura de chocolate.
Escrita com maçapão estava a mensagem:
Feliz Aniversário, Sande! Com amor, mãe e Rosalind.
Foi como se a minha mãe estivesse mesmo ali, a abraçar-me!
Como tinha conseguido pagar o envio?
Saí do quarto e bati à porta do dos meus colegas.
“Bolo de aniversário”, gritei.
Ao cortar depois o bolo para os dez colegas que reunira no quarto, e ao observar os seus rostos enquanto comiam, percebi que eu não precisava de comer para me sentir satisfeita e rica por dentro.
Sande Smith