Os bichos, os brinquedos,
os perfumes, os medos,
os lugares da infância,
os vizinhos, os pais,
são quadros à distância
que não se esquecem mais.
O baú no sobrado,
brincar no balancé,
um “papão” no telhado,
conversa à chaminé…
A voz de minha mãe,
copos a tilintar
e logo atrás me vem
o cheiro do jantar,
a mesa da cozinha,
os bagos da romã,
uvas pretas da vinha,
perfume de maçã.
O fogo da lareira,
madeira no Natal,
os figos da figueira,
o poço do quintal,
o testo, a pá, o tarro,
infusas no poial,
os púcaros de barro,
o potinho da cal.
O gato pachorrento,
as tontas das galinhas,
o tanque de cimento,
os ninhos de andorinhas.
A coberta de linho
a revestir a mala,
a cómoda de pinho,
o relógio da sala.
Serões à luz da lua,
os contos, adivinhas,
os barulhos da rua,
conversas de vizinhas.
Cada cena da vida da criança que fomos
É riqueza investida no adulto que somos…
Marina Aguilar, in “Poetas de hoje e
de ontem”