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segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

A cada dia o seu poema!

 Paz para os crepúsculos que vêm, 



paz para a ponte, paz para o vinho,

paz para as letras que me buscam

e sobem em meu sangue, entrelaçando

o velho canto com terra e amores,

paz para a cidade na manhã

quando desperta o pão, paz para o rio

Mississipi, rio das raízes:

paz para a camisa do meu irmão,

paz no livro como um selo de ar,

paz para o grande kolkhose de Kiev,

paz para as cinzas destes mortos

e dos outros mortos, paz para o ferro

negro de Brooklin, paz para o carteiro

de casa em casa, como o dia,

paz para o coreógrafo que grita

para as trepadeiras com um funil,

paz para a minha mão direita,

que quer apenas escrever Rosário:

paz para o secreto boliviano

como pedra de estanho, paz

para que tu te cases, paz para todas

as serrações de Bio-Bio,

paz para o coração dilacerado

de Espanha guerrilheira:

paz para o pequeno Museu de Wyoming

onde o mais doce é

uma almofada com um coração bordado,

paz para o padeiro e os seus amores

e paz para a farinha: paz

para todo o trigo que deve nascer,

paz para todo o amor que procura folhagem,

paz para todos os que vivem: paz

para todas a terras e as águas.

(...)

Pablo Neruda (Chile)